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Economista explica por que acordo EUA-China não é um bom presente para o Brasil

Economista explica por que acordo EUA-China não é um bom presente para o Brasil

Enquanto EUA e China trabalham para encerrar a disputa comercial que vem afetando intensamente a economia mundial em 2019, exportadores brasileiros demonstram preocupação com os termos desse acerto entre as potências.

Após meses de debates, taxações e trocas de acusações, Washington e Pequim anunciaram neste mês um acordo parcial para estabilizar o comércio bilateral e pôr um fim à guerra comercial que vem gerando inúmeras preocupações ao redor do globo nos últimos tempos. Embora o entendimento entre os dois países traga certo alívio para a economia mundial, há, por outro lado, quem tenha motivos para continuar se preocupando com os desdobramentos desse assunto.

A fase um desse acordo prevê, entre outras coisas, um aumento significativo na importação de produtos agrícolas norte-americanos pela China, totalizando US$ 16 bilhões por ano até 2022 e podendo chegar a US$ 50 bilhões no médio prazo. Bom para os Estados Unidos, ruim para o Brasil.

O Brasil exportou US$ 57,6 bilhões em produtos para a China do início deste ano até novembro, o que representou um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2018. A soja, um dos principais itens agrícolas tanto do Brasil quanto dos EUA, respondeu por 34% desse montante, graças às brigas entre americanos e chineses, que permitiram a outros países aumentar suas participações em determinados setores desses dois mercados.

Agora, o receio dos exportadores brasileiros, sobretudo de soja, não é o de voltar a um cenário anterior ao da guerra comercial, mas, sim, o de levar desvantagens com esse novo acerto entre as potências, que, na prática, criará uma espécie de reserva de mercado para os norte-americanos na China, reduzindo o tamanho desse mesmo mercado para o Brasil.

Para o economista Ricardo Macedo, professor do Ibmec-Rio, a empolgação demonstrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com esse princípio de acordo com a China se justifica, evidentemente, tanto pela garantia de fortalecimento da agricultura norte-americana quanto pela provável expansão de determinados ramos da indústria associados, como o da fabricação de tratores e outras máquinas.

Segundo o especialista, embora, a princípio, as preocupações brasileiras se concentrem na perda de mercado para a soja na China, existe a possibilidade de o Brasil também perder espaço no mercado dos EUA, já que há determinados produtos brasileiros que os chineses também exportam para lá.

Se quiser evitar os efeitos negativos dessa associação China-EUA, o Brasil terá que mudar sua política comercial, buscando novos mercados para seus produtos, afirma Macedo.

“Pelo que a gente tem verificado ao longo dos anos, a balança comercial brasileira é muito dependente tanto da China quanto dos Estados Unidos. A gente acaba até entrando em um certo conflito, como foi demonstrado no início do governo Bolsonaro, dentro da linha apresentada pelo seu plano de ação na política externa [aliança automática aos EUA]. Agora, o governo brasileiro tem que buscar novas parcerias.”

Apesar das perdas imaginadas para o Brasil com a entrada em vigor desse acordo entre Pequim e Washington, o professor destaca que há, ao mesmo tempo, pelo menos dois pontos positivos desse cenário: um deles diz respeito justamente a essa necessidade de diversificar as parcerias aproveitando o câmbio favorável, enquanto o outro se refere a um provável aumento da oferta de certos produtos no mercado nacional, deixando-os mais baratos.

Ainda sobre essa questão do mercado doméstico, o economista do Ibmec explica que, dada a sua lenta recuperação, é provável que, em um primeiro momento, os produtos sejam oferecidos a preços mais acessíveis. Mas, com a gradual recuperação e o crescimento da demanda, a expectativa é a de que, no longo prazo, os produtores possam adotar preços semelhantes aos cobrados no mercado internacional. (Sputnik Brasil)

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