Além de Luciano Hang, veja os empresários citados em áudio de Cid por cobrarem golpe de Bolsonaro

A Polícia Federal obteve um áudio no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, indicando que empresários se reuniram com o Jair Bolsonaro para defender uma “posição mais radical” em relação ao resultado das eleições. Em 7 novembro de 2022, data do encontro, o então presidente havia perdido há poucos dias para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições.

De acordo com a PF, a mensagem de voz de Cid foi enviada ao então comandante do Exército, general Freire Gomes. Na mensagem, o ex-ajudante de ordens comenta numa “visita dos empresários Luciano Hang (lojas Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), Afrânio Barreira (Coco Bambu) e, possivelmente, Sebastião Bomfim (Centauro)”. Ainda segundo a PF, Cid relata que “os empresários tentaram pressionar Jair Bolsonaro para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente, com o objetivo de ‘virar o jogo’, possivelmente se referindo ao resultado das eleições presidenciais”.

Luciano Hang e Meyer Nigri negam ter pressionado Bolsonaro a tomar qualquer medida antidemocrática. Barreira afirmou que estava em Londres na data da suposta reunião e também negou envolvimento. Procurado, Bonfim ainda não se manifestou.

Conheça os empresários:

Luciano Hang
Apoiador de Bolsonaro declarado desde 2018, Luciano Hang é um dos fundadores da Havan, rede de lojas de departamento. De acordo com a Forbes 2023, o empresário viu sua fortuna cair de US$ 4,8 bilhões para US$ 3,2 bilhões, caindo da 586ª para a 905ª posição na lista de pessoas mais ricas do planeta.

Em 2022, o empresário ganhou repercussão nacional ao prestar depoimento na CPI da Covid. No final do relatório, ele foi um dos 68 indiciados entre pessoas físicas e empresas.

Em janeiro deste ano, Hang e a rede de lojas foram condenadas a pagarem mais de R$ 85 milhões por intimidar os empregados a votarem em Bolsonaro na eleição de 2018.

Após os ataques golpistas do 8 de janeiro as sedes dos Três Poderes, em Brasília, Hang divulgou uma nota afirmando que “a democracia não combina com atos de vandalismo e sim com diálogo, jamais com violência”. Ele também afirmou ser preciso respeitar as leis e as instituições, classificando como lamentável ver patrimônios públicos serem depredados.

Meyer Nigri
Engenheiro, investidor e influente em diferentes meios, Meyer Nigri foi um dos conselheiros informais do ex-mandatário enquanto ele ocupava a Presidência. Neto de libaneses e filho de brasileiros, o empresário é formado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Além de fundador e ex-presidente da Tecnisa, empresa que atua no mercado imobiliário brasileiro, ele também é dono de uma confraria de vinhos e investe em um projeto com start-ups ligadas a campanhas de marketing.

Na campanha de Bolsonaro em 2018, Nigri abriu seu apartamento em São Paulo para apresentar o candidato e permitir que ele falasse de seu projeto de governo à elite paulistana. Frequentador de uma sinagoga ortodoxa e considerado filantropo da comunidade judaica de São Paulo, o empresário teve influência direta na intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O fato acabou não se concretizando.

Durante o mandato do ex-presidente, Nigri serviu como consultor de Bolsonaro para temas que iam de política externa a questões empresariais. Ele também influenciou diretamente em indicações do alto escalão do governo. O dono da construtora tem digitais na escolha do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. O executivo também fortaleceu a escolha de Fábio Wajngarten para chefiar a Secretaria Especial de Comunicação da Presidência e de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em agosto do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou o inquérito que investigava Nigri e Hang. Eles eram acusados de ter conversado sobre um golpe de Estado caso Lula ganhasse as eleições. Nigri teria recebido notícias falsas contra as urnas eletrônicas de um número de celular que seria do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a PF, um contato identificado como “Pr Bolsonaro 8” enviou um vídeo e uma mensagem atacando o processo eleitoral.

Em entrevista dias após a decisão de Moraes, Nigri declarou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que nem sempre concordava com o teor das conversas compartilhadas e, em alguns casos, sequer lia o conteúdo.