Pix do Milhão: o livro que ensina a apostar (e perder)”

O que se apresenta nas redes como uma revolução literária pode esconder um perigoso esquema digital. O Pix do Milhão, plataforma que promete prêmios milionários, doações a causas sociais e e-books “transformadores”, tem se espalhado com a velocidade típica de golpes bem montados.

Por trás da vitrine colorida e dos slogans motivacionais, o que parece existir é uma engenhosa rifa digital camuflada de editora. Cada “livro digital” vendido funcionaria, na prática, como um número de sorteio. Os compradores acreditam estar adquirindo conhecimento, mas o verdadeiro jogo pode ser outro: uma loteria não autorizada, travestida de material educativo.

O catálogo da empresa teria cerca de 198 títulos, mas há relatos de usuários que compraram mais de 1.500 cotas, o que reforça a suspeita de atividade de aposta e não de leitura. Termos como “bilhetes em dobro”, “roleta da sorte” e “aproximação” aparecem em regulamentos internos, vocabulário típico de jogos de azar e completamente fora de contexto em uma editora.

E o alerta fica ainda mais grave: documentos da Via Capitalização S.A. (processo SUSEP nº 15414.655038/2025-96) apontam que, em apenas um ano, milhões de reais teriam circulado pela plataforma. Desse montante, 41,75% seriam destinados a “despesas administrativas”, enquanto apenas 8,24% chegariam aos prêmios prometidos.

Em outras palavras, menos de 10% do dinheiro realmente voltaria para os participantes — o restante sumiria sob o rótulo genérico de “custos”. Especialistas em finanças e direito digital alertam: essa discrepância pode indicar triangulação de valores, superfaturamento interno ou até movimentações típicas de lavagem de dinheiro.

O caso já desperta atenção de órgãos de fiscalização federal, que investigam a possível existência de um dos maiores esquemas de rifas ilegais do país, disfarçado sob a promessa de “educar e transformar vidas”.